Até apresentadores experientes cometem erros. Mesmo em eventos de alto nível, como o festival Whow! da 100 Open Startups. Com cada erro, uma oportunidade desperdiçada.
Por ter anos de experiência em consultoria e um MBA na USC, sempre tentei entender quais os ingredientes de boas apresentações. Entre ontem e hoje, vi 50 pitches de empreendedores experientes. Todos ficaram no Top 10 das suas categorias (Tecnologia para Marketing, RH, Industria, Produtividade e Construção). Mesmo assim, muitos fizeram erros que poderiam ter sido evitados facilmente.
As lições que compartilho aqui são gerais e podem ser aplicadas por qualquer profissional que precise fazer apresentações como parte do seu trabalho. Meu objetivo não é criticar os empreendedores, mas ajudar profissionais experientes a criar melhores apresentações.
Participei de algumas bancas do Whow! da 100 Open Startups. Nesse evento, as melhores empresas de cada categoria podem fazer pitches para empresas comprarem seus serviços. Cada um dos startup mandou um vídeo de 3 minutos que foi compartilhado com responsáveis por inovação em grandes empresas. O evento foi inteiramente online.
Esses empreendedores são apresentadores experientes. Estão acostumados a vender seus serviços e a captar investimentos. Estão acostumados com situações de desafio e de banca. Mesmo eles cometeram erros relacionados aos pontos abaixo:
1. Menos é mais
Quando você está apresentando, o foco deve ser em você. O slide é um acessório. Quando for apresentar, opte por figuras, frases e use letras grandes. Diagramas detalhados e gráficos podem dispersar a audiência.
Esse é ainda um dos erros mais comuns de apresentadores experientes. Muitos querem usar diagramas e infográficos completos para mostrar expertise. Esse não é o momento para isso.
Dica: reformule os slides para simplicidade e corte frases e palavras. Apenas coloque no slide aquilo que não consiga expressar com a sua fala. Como regra geral, use no máximo 3 bullet points de duas linhas. Caso seja essencial colocar mais palavras, use animações para trazer a informação a medida que você fala.
2. Cative a audiência de cara
O ser humano tem a atenção limitada. Se você não cativar sua audiência de cara, pode perde-los para sempre. Especialmente em reuniões virtuais. No 100 Open Startups, muitos dos pitches demoraram para esquentar.
Dica: Use os primeiros 10 segundos para prender a atenção da audiência e os primeiros 10% da apresentação para dar razões para sua audiência escutar.
3. Aparência profissional
Por incrível que pareça, muita gente ainda peca nesse ponto. Principalmente se a sua audiência estiver te conhecendo pela primeira vez, capriche no fundo, na roupa e no vocabulário.
Dica: Ser profissional quer dizer diferentes coisas em diferentes meios. Esteja vestido de acordo com a situação. Em apresentações online, pense na luz e faça um teste de câmera e voz antes de entrar ao vivo. Não fale gíria e evite palavras de apoio como “né” e “hum”.
4. Capriche na comunicação não-verbal
Tom de voz e expressão facial podem ser usadas para se conectar com a sua audiência. Mostre entusiasmo, sem exagerar. Use a comunicação não verbal para mostrar que você se importa com o tema que está falando e com a sua audiência.
Dica: Antes da apresentação, faça exercícios vocais e peça feedback de colegas de trabalho ou amigos. Use o tom de voz e a expressão corporal para provocar emoções na sua audiência(seja entusiasmo ou indignação). Não exagere e aja com naturalidade.
5. Use a apresentação para começar uma conversa com a sua audiência
A apresentação raramente é um fim em si mesma. Muitas apresentações terminam subitamente, sem próximos definidos. No 100 Open Startups, com um pitch atrás do outro, muitas vezes fiquei sem saber o nome do empreendedor e da empresa. Mesmo tendo gostado, o engajamento posterior com essas empresas não foi fácil.
Dica: Entenda os objetivos da apresentação e use os momentos finais para pedir que a audiência entre em contato. Seja claro sobre o que você espera do contato. Se o formato for pitch, tenha o nome da sua empresa visível em todos os slides. Engaje sua audiência com frequência, jogando a discussão para eles. Não deixe o engajamento da audiência inteiramente para o final. A cada 10-15 minutos faça uma pergunta para a sua audiência. Se a audiência for grande, uma alternativa é jogar uma pesquisa de vez em quando usando alguma ferramenta como o Mentimeter.
Dica 2: Seja estratégico no que você pede. Se o evento é para potenciais compradores, não peça investimentos. Se o evento é para especialistas em produção, não fale sobre o impacto do seu produto em estratégia de marketing.
6. BONUS: Você não é radialista
Se o seu tempo for limitado, não tente falar o máximo de informação em um curto espaço de tempo. Alguns pitches me fizeram sentir como se estivesse escutando uma partida de futebol no rádio ou vendo um anúncio das Casas Bahia.
Dica: Se você só tiver 3 minutos, foque na informação que consegue passar em 3 minutos para gerar interesse da audiência. Falar rápido vai fazer você perder a audiência e perder o foco na informação verdadeiramente importante.
Conclusão
Capriche na comunicação. Invista em preparar e ensaiar. Faça e refaça seus slides. Enxugue sua mensagem. Isso trará oportunidades de negócio e avanços na sua carreira.
No final, das 50 empresas que vi fazendo pitch, marquei 10 reuniões. Em muitos casos, perdoei erros de comunicação por propostas de valor muito interessantes. O contrário também se aplica. Se a proposta de valor for ruim, nem a melhor comunicação vai salvar a empresa.
Por causa de erros de comunicação, entretanto, deixei de falar com diversas empresas. Certamente, não fui o único. As empresas que mais pecaram na comunicação perderam milhares de reais em negócio e relacionamentos com potenciais clientes.
No Vale do Silício, nenhum investidor investe em um empreendedor que não saiba se comunicar. Os investidores sabem que esses empreendedores deixam dinheiro na mesa. Não seja o empreendedor ou profissional que se comunica mal.
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Fernando Alves é mestre em negócios pela University of Southern California, formado em economia pela FGV e é fundador da PilarX – consultoria focada em inovação corporativa através da promoção da cultura de inovação e engajamento com Startups
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